quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ontem e há dez anos...



Para o meu Amor.

Ontem completaram-se 10 anos desde o nosso primeiro beijo. Depois do 1º vieram muitos outros. -Muitos mesmo!, diria o marido lindo, pois eu sou uma beijoqueira incurável e estou muito feliz assim. Não faço esforço algum para mudar.

O primeiro beijo foi escondido de todos, secreto. Nosso primeiro segredo. Segredo que depois foi revelado, para poucos, é verdade e por isso, mesmo revelado, continuou a ser segredo! Em seguida - coisa de algumas semanas, quase um mês! - o romance deslanchou e deixou de ser segredo. Não de uma hora para outra, mas aos poucos... O romance deixou de ser segredo, mas o primeiro beijo não!

Ontem comemoramos com um risotto, feito em casa, a 4 mãos, e nos lembramos do nosso primeiro risotto feito assim, há pouco mais de 1 ano: desastre absoluto, que foi, gentilmente, chamado de gororoba de arroz empapado!

O primeiro beijo foi inusitado e ... delicioso! Todos os outros beijos foram deliciosos!

O primeiro risotto foi planejado e ... horroroso! Todos os outros foram no mínimo bons! Alguns deliciosos!

Tem sido assim nestes 10 anos: experimentamos juntos muitas coisas! Algumas deram certo na primeira tentativa, outras nem tanto e viraram motivo de riso, mas não desistimos; insistimos sempre! E é bom, hoje, olhar para trás e ter a certeza de que tudo valeu, de que não podia ter sido melhor, de que eu não podia ter sido mais feliz!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Arroz de Palma

Meu marido diz que a culpa é da televisão: se eu não assistisse novela ou série alguma poderia ler mais... Eu argumento, acreditando, que ao fim do dia o cansaço mental é tanto que é preciso ver a novela, que vazia como é, não me faz pensar... Vejo e escuto sem nada absorver, me livro dos pensamentos do dia trabalhado, com o corpo acolhido na rede ou esborrachado no sofá. As séries tem a vantagem de serem um pouco mais divertidas e ainda mais distantes da minha realidade!

Enfim, eu também preferia ler a ver TV, mas simplesmente, neste caso, não consigo!

Então a leitura continua em horários restritos pela manhã e nos finais de semana.

Bom, mas desde o final de 2008, quando eu me propus a tentar recuperar o hábito da leitura, eu recuperei também o prazer de ler (e inaugurei aqui no blog a secção andei lendo...)! Ler é uma delícia! Recomecei devagar, por livros que fluem facilmente ou que eu já havia lido na época do colégio e gostado. Foi um aquecimento, para desenferujar!

A leitura vai indo, no meu ritmo, do jeito que me dá prazer! O que não tem conseguido acompanhar o ritmo da leitura são os posts das mesmas aqui no blog... Descobri que nestes quase 2 anos eu li uns 15 livros (se a memória não falhou!), no entanto foram apenas 3 postagens! Sem problemas, sem obrigação, ... mas postar sobre o que li é um jeito de poder resgatar esta leitura, é uma coisa que realmente gosto! Adorei, com um clique, 'voltar' em 2008 e ver o que eu tinha selecionado para postar sobre Fernando Sabino, por exemplo!

Um ou outro livro possivelmente não irá despertar vontade de escrever um post, como foi o caso de Código da Vinci e o O Mundo de Sofia! Eu gostei do livro de Dan Brown, devorei (dentro dos meus padrões, visto que eu leio bem devagar), mas dizer o que sobre ele? Sei lá... Tanto já foi dito... Preguiiiiça... Já o de Joinster Gaarder eu custei para terminar! E apesar de meio adolescente eu prefiro a historinha fictícia do que a história da filosofia. Rsrsrs...


Reinauguração: Andei lendo...

Bom, chega de conversa! Vou logo reinaugurar esta seção com um dos livros que eu mais gostei na temporada: Arroz de Palma, de Francisco Azevedo!

Eu gostei tanto, ele me marcou tanto, que ainda não consegui devolvê-lo ao seu dono - meu sogro - que gentilmente me emprestou. Fico olhando o livro e querendo tê-lo por perto... E chego a folhear e reler alguns trechos... fecho e fico relembrando de outros...

Ao invés de devolver, sucedeu-se o contrário... já comprei dois exemplares para presentear pessoas queridas! O primeiro dei a meu pai, antes mesmo de ter terminado a leitura! Achei que ele se identificaria bastante com o personagem principal! Me lembrei muito do meu pai enquanto lia! Também me lembrei do meu avô paterno! O livro é totalmente 'família'! Também pensei na minha mãe e nas minhas irmãs... O segundo exemplar dei a uma grande amiga (brasileira, que mora no Chile). Enquanto passava alguns dias aqui ela disse que queria comprar um bom livro em português! O autor sendo brasileiro, melhor ainda! Ela é tão 'família' quanto eu e o livro!

Trata-se de um romance sobre a vida de Antônio, que, aos 88 anos, está na cozinha de sua fazenda preparando o almoço que será servido à família, numa reunião tão sonhada e desejada, quanto adiada. À medida que prepara a comida, nos conta de sua história, desde o casamento de seus próprios pais, passando por sua infância com seus irmãos, o nascimento de seus filhos, sua velhice, e agora o grande dia! Quase tudo é contado sob o seu ponto de vista, mas antes da última página ele nos deixa enxergar um pouco através do olhar de seus irmãos e nos revela assim que a vida familiar é ainda mais rica! E nos faz refletir...

Alguns trechos, só para dar um gostinho deste delicioso arroz...

"Eu aqui, um velho de 88 anos. Para os mais novos, o Avô Eterno, o que não teve começo nem terá fim, o que já veio ao mundo com esta cara enrugada. Eu aqui, de avental branco, picando o tempero verde. Preparo o almoço de família. Terei forças? 88: dois infinitos verticais. É boa idade, será uma bela festa." (p.09)

"Lembranças vivas em todos os sentidos: paladar, olfato, audição, visão e tato. Sigo em frente. (...) Sou passado, presente, futuro - três pessoas distintas reunidas numa só, mistério da terreníssima trindade." (p. 09-10)

"Velho sente saudade de mãe e de pai. Tudo faz tanto tempo! Velho quer colo, quer colher na boca vindo de aviâozinho, quer - banho tomado - que lhe ponham na cama, lhe aconcheguem com lençol limpo e travesseiro macio. (...) Velho sente saudade da instância superior. Quem o julgará com isenção e sabedoria? Quem, melhor que ele, saberá, imparcial, examinar o mérito da questão? Velho é criança de fôlego diferente. Já não lhe interessam as correrias nos jardins, o sobe e desce das gangorras, o vaivém dos balanços. É tudo muito pouco. O que ele quer agora é desembestar no céu, soltar os bichos que colecionou a vida inteira." (p. 10)

"Cedo também aprendi que o corpo conhece outras maneiras de se purificar. A urina, a menstruação, o vômito, as espinhas, o esperma, a coriza e o suor, tudo nos purifica. O que o corpo põe para fora é sinal de purificação. Assim, as lágrimas seriam a forma mais elevada de nos purificarmos. E o nascimento de uma criança, a mais completa." (p. 22)


"Neto faz bem à saúde. Se avô é pai com açúcar, neto é filho com proteínas, vitaminas e sais minerais. Um abraço de neto a cada 24 horas substitui perfeitamente qualquer tipo de medicamento." (p. 24)


"- Antonio, te amo muito, sabes?
- Eu também te amo, Tia.
- Amas nada! Quanto? Diz.
Abro os braços o mais que posso. Tia Palma provoca.
- Só isso?
Continuo com os braços estendidos ao máximo. Olho uma e outra extremidade. Movo a ponta dos dedos tentando alcançar uma medida de amor ainda maior. Esforço inútil. Mas mostro que não vou desistir assim tão fácil. Mesmo que leve tempo.
- Quando eu crescer, meus braços vão crescer também, não vão?
- Claro que vão, meu querido.
Encolho os ombros e faço minha melhor oferta.
- Então você vai ter que esperar eu crescer.
O sorriso de Tia Palma me mostra que entre um cantinho e outro da boca, sem muito esforço, cabe todo o amor do mundo. Amor desmedido que dispensa palavras e gestos largos." (p. 28-29)

E tem muito mais! Um dia eu continuo...