quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sobre silêncios...

Sou uma pessoa muito reservada... ao mesmo tempo, sou muito falante quando me sinto à vontade. Mas gosto de momentos de silêncio.

O silêncio que eu mesma sou capaz de fazer, estando junto com alguém ou com várias pessoas já me incomodou muito. Estar em silêncio na presença do outro me deixava a sensação de que eu não tinha (ou não demonstrava ter) afinidade, simpatia, intimidade, amizade e sei lá mais o quê!

Hoje já entendo melhor o silêncio...

Achei interessante o fato de que algumas leituras recentes que fiz trouxeram a questão de maneira tão forte... Por isso resolvi compartilhar!



De Mia Couto, Antes de Nascer o Mundo:

"A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que podemos brilhar. Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros.Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.

- Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.

E era assim todas as noites (...). Depois, ele inspirava fundo e dizia:

- Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.

Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim era dom natural, herança de algum antepassado." (pgs. 13 e 14)


De Isabel Allende, A Soma dos Dias:

"Janeiro chega depois de alguns meses sem escrever, nos quais vivi voltada para fora, na balbúrdia do mundo, viajando, promovendo livros, dando conferências, rodeada de gente, falando demais. Barulho e mais barulho. Mais que de qualquer outra coisa, tenho medo de ter me tornado surda, não poder ouvir o silêncio. Sem silêncio, estou em apuros." (pag. 12)

Um comentário:

disse...

Adorei Falvinha! Como você comentou, eu adoro silêncio também. E depois de ter minha casa invadida por crianças barulhentas (porque elas são normais como todas as crianças) dei ainda mais valor para a questão de ouvir o silêncio. E concordo contigo. Ficar em silêncio é sempre algo que os outros olham com reserva. E não tem nada a ver nem mesmo com timidez. Bjs